Na manhã desta quarta-feira (3), a Rodrigo Bacellar (União Brasil), que ocupava a presidência da Alerj, foi preso pela Polícia Federal (PF), no âmbito da Operação Unha e Carne. A acusação: vazamento de informações sigilosas relativas à Operação Zargun — investigação que, em setembro, resultou na prisão do então deputado estadual TH Joias.
Segundo a PF, o suposto vazamento por agentes públicos comprometeu o andamento da Zargun, obstruindo parte das investigações sobre esquemas de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e fornecimento de armas a facções criminosas — crimes atribuídos a TH Joias.
A ação resultou em mandado de prisão preventiva contra Bacellar, além de oito mandados de busca e apreensão e outras medidas cautelares autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
TH Joias — nome de batismo: Thiego Raimundo dos Santos Silva — havia assumido o mandato de deputado estadual em 2024 como 2º suplente, após a morte de outro parlamentar. No entanto, sua trajetória foi interrompida em setembro deste ano, com a prisão sob acusações graves: tráfico de drogas e armas, lavagem de dinheiro, corrupção e fornecimento de armamento para a facção criminosa Comando Vermelho (CV).
Na ocasião, TH Joias foi destituído do mandato e perdeu a imunidade parlamentar — medida que permitiu sua prisão e andamento da investigação no sistema comum de justiça. O primeiro suplente, Rafael Picciani, foi convocado para reassumir a vaga.
A amizade entre TH Joias e Bacellar era antiga e pública — nas redes sociais e em agendas institucionais, os dois apareciam abraçados, celebrando uma relação que ia além da convivência parlamentar. Em função desse vínculo, TH chegou a presidir a Comissão de Defesa Civil da Alerj e acompanhou o presidente em diversas viagens ao interior do estado.
É essa proximidade que hoje alimenta suspeitas graves sobre o grau de envolvimento de Bacellar nos supostos vazamentos — e de que a operação da PF não mira apenas um personagem isolado, mas uma possível rede de vínculos perigosos entre crime organizado e membros do Legislativo.
A prisão de Bacellar expõe fragilidades e contradições de um político que, até recentemente, parecia em plena ascensão: em fevereiro de 2025, ele foi reeleito presidente da Alerj por unanimidade — todos os 70 deputados da Casa votaram a favor, algo inédito na história do parlamento fluminense.
Com base nessa força política, Bacellar vinha sendo apontado como nome forte para disputar o governo do Estado em 2026.
Mas escândalos recentes, com a prisão de TH Joias e o desdobrar da Operação Zargun, já haviam trazido à tona de forma pública as ligações do deputado preso com facções criminosas, dinheiro suspeito, joias, luxo e uma reputação de “lugar de luxo e ostentação” — fatores que tensionavam a imagem de Bacellar como político “modernizador” e comprometido com a ética.
Agora, com sua detenção, recai sobre ele não apenas suspeitas de obstrução de justiça, mas também o peso simbólico de uma Casa Legislativa controlada por quem agora figura como réu — o que provoca descrédito sobre a Alerj, especialmente em municípios interioranos onde o Legislativo muitas vezes é visto como remédio para problemas locais.
Com a prisão de Bacellar, abre-se um vácuo institucional na presidência da Alerj. A Mesa Diretora provavelmente deverá se reunir, ainda hoje ou nos próximos dias, para decidir quem assume interinamente a presidência — tarefa que poderá recair sobre um dos vice-presidentes eleitos em 2025, como o Guilherme Delaroli (PL), que ocupava o cargo de 1º vice-presidente.
Paralelamente, a prisão joga incerteza sobre a continuidade da agenda de repasses aprovadas por Bacellar — como os R$ 220 milhões destinados aos municípios, parte do orçamento da Alerj anunciado há poucos dias.
No meio rural e nos municípios do interior do estado, esse cenário causa apreensão: muitos prefeitos contavam com a mediação da Alerj para recursos e apoio político. Com o Parlamento sob suspeita, todo o jogo de negociações e pactos políticos para 2026 está em aberto — e qualquer encaminhamento dependerá da reconstrução de credibilidade instaurada por quem chegar ao comando.
Finalmente, a aspiração de Bacellar de concorrer ao governo estadual em 2026 parece por ora congelada — e qualquer nome a surgir para disputar o Executivo fluminense terá de levar em conta o desgaste institucional da Alerj.
A prisão de Rodrigo Bacellar marca mais um capítulo grave de escândalos que envolvem o aparato político e o crime organizado no Rio de Janeiro. Para os municípios interiores — onde a Alerj frequentemente atua como ponte para recursos e políticas — o golpe é duplo: o desgaste institucional pode comprometer não apenas as articulações de 2026, mas também o apoio imediato para obras e investimentos.
Seja qual for o desfecho da investigação, o Mato e o asfalto do interior do estado provavelmente sentirão o preço de um Parlamento abalado.