
Com a ajuda do telescópio espacial James Webb, cientistas da Universidade de Cambridge, nos Estados Unidos, anunciaram na semana passada uma descoberta que poderia revolucionar a busca pela vida fora da Terra: foram detectados, na atmosfera de outro planeta, gases que, no nosso planeta, só são produzidos por processos biológicos. Segundo os pesquisadores, esses são sinais mais fortes até agora de possível vida além do nosso sistema solar. Agora, cientistas rivais contestam o estudo, publicado na revista científica "Astrophysical Journal".
Segundo os especialistas da Universidade de Cambridge, a presença de sulfeto de dimetila – também conhecido como DMS – em K2-18b os dava "99,7%" dá certeza de que o planeta a 124 anos-luz da Terra está repleto de vida alienígena.
Como o DMS é produzido quase exclusivamente por seres vivos na Terra – está entre os gases produzidos pelos humanos – os astrônomos o consideram uma potencial "bioassinatura" na busca por vida extraterrestre em outras partes do Universo.
Mas os cientistas rivais estão criando polêmica, alegando que o teste usado pelos britânicos não estava de acordo com os padrões e que sua teoria deveria ser descartada.
Os especialistas da Universidade de Cambridge relataram sua detecção de DMS com significância estatística de três sigma – indicando uma chance de 0,3% de ser devido ao acaso.
Outros especialistas apontaram que isso fica aquém do padrão típico de cinco sigma exigido para uma descoberta científica minimizar falsos positivos.
Esse padrão se traduz em uma chance de 0,00003% de que as descobertas sejam devidas a um acaso estatístico.
Os críticos também alegaram que os dados coletados para o estudo levaram a capacidade do Telescópio Espacial James Webb – usado para detectar os trunfos – ao seu limite.
Eles disseram que os pesquisadores podem ter usado um modelo tendencioso que inflou artificialmente a importância do DMS flutuando na atmosfera do K2-18b.
Manasvi Lingam, astrobiólogo do Instituto de Tecnologia da Flórida, EUA, que não participou da nova pesquisa, disse: "Concluir que o DMS foi detectado parece prematuro."
Ele aceitou que a pesquisa mais recente "envolve novos dados", mas até que tenham sido "analisados independentemente por outros", disse que "não podemos fazer nenhuma afirmação sobre a habitabilidade do K2-18b e a possível existência de vida".
Eddie Schwieterman, professor assistente de astrobiologia na Universidade da Califórnia, Riverside, EUA, que também não participou da nova pesquisa, disse estar surpreso por etano não ter sido encontrado junto com o possível DMS. Ele disse que a radiação UV da estrela hospedeira deveria quebrar as moléculas e formar etano abundante como subproduto.
A ausência de etano nos dados não condiz com a compreensão dos cientistas sobre as atmosferas planetárias, acrescentou.
"Ou nossos modelos estão errados ou o DMS pode não existir", disse ele. Encontrar vida fora do Sistema Solar não será uma detecção única e definitiva.
"Ao longo do caminho, devemos esperar alguns alarmes falsos, e este pode ser um deles." Christopher Glein, cientista planetário do Instituto de Pesquisa do Sudoeste, no Texas, EUA, disse ao Space.com que sua reação ao estudo foi de "interesse, mas moderação".
"Precisamos resistir à tentação de encontrar uma prova cabal", disse ele. "A busca por vida é difícil. Para que um caso convincente seja apresentado, múltiplas linhas de evidências autoconsistentes precisarão ser reunidas".