
Brasília – Entre os rigores da democracia e as fissuras de uma polarização profunda, o Supremo Tribunal Federal (STF) se prepara para colocar no banco dos réus o ex-presidente Jair Bolsonaro. Acusado de liderar uma trama golpista após sua derrota eleitoral em 2022, ele e outros sete integrantes do chamado "núcleo crucial" enfrentarão a primeira fase dos trabalhos entre os dias 2, 3, 9, 10 e 12 de setembro na Primeira Turma do STF .
A sessão inaugural será dedicada à leitura do relatório do relator Alexandre de Moraes, seguida pela apresentação das acusações da Procuradoria-Geral da República (PGR). Logo depois, virá a defesa — com direito a uma hora para cada acusado — e, então, os votos dos ministros: Moraes abrirá a rodada, seguido por Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin .
A acusação soma até 43 anos de prisão, envolvendo golpes de Estado, organização criminosa, abolição violenta do Estado‑democrático de direito, dano qualificado e deterioração de patrimônio público . Analistas acreditam que a culpa de Bolsonaro é praticamente inevitável, mas que poderá haver divergências na dosimetria da pena .
Esta é a primeira vez na história democrática do Brasil que um ex-presidente é julgado por conspiração para dissolver o regime democrático — um momento que promete ser um divisor de águas na cultura política nacional .
O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, tornou-se alvo de críticas por medidas vistas como autoritárias — incluindo prisão domiciliar, monitoramento eletrônico e censura digital —, gerando tensões internas e até ações políticas contra ele .
Enquanto isso, Bolsonaro segue sob rigorosas medidas cautelares: usa tornozeleira eletrônica, permanece em prisão domiciliar, teve seus celulares apreendidos e está impedido de acessar redes sociais ou certos contatos — restrições essas consideradas por ele e seus apoiadores como “humilhação suprema” .
O julgamento transcende o tribunal: as relações com os Estados Unidos se encontram tensas. O ex-presidente Donald Trump classificou o processo como uma "caça às bruxas" e reagiu com sanções econômicas — como tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros — e ações políticas, como a revogação de vistos de ministros do STF .
Fiquemos atentos: entre os discursos, as sentenças e a expectativa do país, desfia-se o futuro da democracia brasileira.