
O bairro Santa Rita, em Vila Velha, foi palco de uma tarde de horror no último sábado (9). Um ataque a tiros, em plena luz do dia, matou a adolescente Sophia Vial da Silva, de 15 anos, e a manicure Andrezza Conceição, de 31. Duas crianças — um menino de 9 anos e uma menina de 6 — também ficaram feridas, assim como um homem que, segundo a polícia, não era o alvo da ação.
O secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, Leonardo Damasceno, classificou o crime como um ataque terrorista ligado à disputa entre facções criminosas que tentam dominar a Região 3 do município. “Perdemos duas vidas inocentes e vimos crianças atingidas nessa ação. É um ato que visa espalhar medo, executado por adolescentes já envolvidos profundamente no crime, como parte de uma tentativa de expandir o controle territorial”, disse Damasceno.
Segundo as investigações, a guerra envolve o Primeiro Comando de Vitória (PCV) e o Terceiro Comando Puro (TCP). O ataque foi atribuído a membros do PCV, que, de acordo com a polícia, pretendiam avançar sobre áreas controladas pelo TCP. Não houve troca de tiros com rivais — a ação foi direta, como demonstração de força.
Damasceno explicou que o TCP controla bairros como Santa Rita, Primeiro de Maio, Aribiri e Ilha das Flores, enquanto o PCV, originário do Espírito Santo e ligado ao Comando Vermelho do Rio de Janeiro, tenta ampliar seu território. Já o TCP, surgido no Rio, conta com aliados capixabas, mas não com integrantes vindos do estado fluminense.
O comandante-geral da Polícia Militar, Douglas Caus, afirmou que o ataque foi ordenado por um homem conhecido como “Nego Stanley”, apontado como gerente do tráfico no bairro Alecrim. Segundo ele, a ordem foi executada por dois adolescentes. Um deles foi apreendido nesta segunda-feira (11).
“Estamos atuando de forma integrada. Reforçamos a presença das forças de segurança e vamos manter esse trabalho até sufocar os pontos de venda de drogas da região”, explicou Caus.
Vítimas sem ligação com o crime
Sophia estava no carro com os pais quando foi atingida. Andrezza caminhava para o trabalho. Nenhuma das duas tinha qualquer envolvimento com a disputa entre facções. A mãe de Sophia, Allini Vial, relatou a dor da perda: “Vi minha filha ser atingida dentro do carro. Ela era perfeita, linda, e agora se foi por causa dessa guerra que já tirou tantas vidas inocentes.”
Maria Luiza da Silva, mãe de Andrezza, contou que pressentiu o pior: “Eu estava no telefone quando ouvi os tiros. Coração de mãe não se engana. Senti que minha filha tinha sido atingida e corri para o local. Já sabia que ela não resistiria.”
Moradores realizaram um protesto na noite do crime pedindo mais segurança e a instalação de uma base móvel da Polícia Militar. Segundo Caus, essa medida já está no planejamento: “Essas bases móveis permitem deslocar rapidamente equipes para onde há necessidade, acompanhando a dinâmica do crime.”
A Região 3 e a disputa pelo território
A Região 3 de Vila Velha reúne 17 bairros, incluindo Santa Rita, Aribiri, Ilha das Flores e Primeiro de Maio. Oito deles estão sob domínio do TCP, enquanto três são controlados pelo PCV. O território é estratégico para o tráfico de drogas, sendo o controle das chamadas “bocas de fumo” o principal motivo da guerra.