
I – A acusação em foco
O primeiro dia, realizado em 2 de setembro de 2025 na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, abriu com a leitura do relatório pelo ministro Alexandre de Moraes, que definiu o tom do processo ao condenar, com veemência, qualquer tentativa de ruptura institucional: “a impunidade não é espaço para pacificação” — destacou o papel central do Supremo em defesa da democracia.
A Procuradoria-Geral da República (PGR), representada pelo procurador Paulo Gonet, apresentou a denúncia: Bolsonaro liderou uma trama golpista, articulada com generais e ministros, para tentar anular as eleições de 2022 e permanecer no poder. Defendeu que, mesmo sem uma ordem assinada, o contexto e os atos indicam claramente a intenção golpista.
II – A defesa se articula
Na fase da tarde, advogados de quatro dos oito réus fizeram suas sustentações orais: Mauro Cid, Alexandre Ramagem, Almir Garnier e Anderson Torres. Cada defesa tentou esvaziar a narrativa da PGR.
A defesa de Mauro Cid pediu a valorização de sua delação premiada e argumentou contra qualquer nulidade — afirmando que as várias colaborações prestadas reforçam sua boa-fé.
O advogado de Ramagem tentou desconectar seu cliente de Bolsonaro, dizendo que suas ideias eram de foro pessoal e não coordenadas. Foi questionado pela ministra Cármen Lúcia sobre a distinção entre “voto impresso” e “processo eleitoral auditável”, em que respondeu com certo desconforto.
A defesa de Garnier criticou a delação de Cid como contraditória e pediu sua rescisão.
Já a defesa de Anderson Torres apresentou seu cliente como colaborativo, enfatizando que ele teria até participado da transição de governo e entregue senhas para a investigação em boa-fé.
III – Cenário externo e institucional
Interferências políticas foram explicitamente citadas por Moraes. Ele criticou pressões, inclusive do governo dos EUA, segundo o qual o julgamento seria uma "caça às bruxas" (por declarações de Donald Trump), e enfatizou que isso não abalaria a integridade do processo. Também sinalizou ao ministro Luiz Fux que não haveria motivos para interromções — estratégia para que o processo não se prolongasse com pedidos de vista.
IV – Expectativas para o segundo dia (3 de setembro)
Nesta quarta-feira, o julgamento recomeça às 9h com as sustentações orais da defesa de Jair Bolsonaro e de três generais, incluindo Augusto Heleno.
Bolsonaro, cuja defesa será conduzida por Celso Vilardi, não estará presente: resultados divulgados indicam que ele continuará afastado por questões de saúde, assistindo de casa.
A expectativa é que o tom dos advogados seja focado em reforçar argumentos já apresentados: possível cerceamento de defesa, ausência de provas conclusivas, apócrifa natureza da minuta do golpe e motivação política, não criminal.
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Primeiro dia marcado pela firme defesa institucional do STF e acusações contundentes da PGR. A defesa reagiu, ainda que de maneira fragmentada. O segundo dia será decisivo: a sustentação de Bolsonaro e generais pode definir os próximos rumos do processo até as votações, previstas para setembro. A democracia brasileira observa — e espera.